segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Falando sobre poesia

  Outro dia eu estava conversando com Painho (Ugo Braga) sobre uma poesia que eu havia feito e tinha pedido para que ele me desse sua opinião. Enquanto eu aguardava ansiosamente por seu comentário, ele fez um breve silêncio, soltou aquele famoso "veja só" e começou a dissertar sobre o quanto aquele poema era simplista, não era dotado de redondilhas nem de rimas, e que o traço do qual ele não gostava nos poetas de Brasília, era justamente o fato de que qualquer pessoa podia fazer as poesias deles - pelo que eu entendi eram no estilo Oswald pós semana de arte moderna - crítica decifrada como: qualquer um pode escrever os poemas que você escreve, ou pior, desista do ramo poético.
  Ao primeiro olhar parece que eu fiquei triste com tudo aquilo, decepcionada comigo mesma e etc - e fiquei. Mas só em um primeiro olhar. Passei um tempo pensando nisso e cheguei a uma conclusão: é bem verdade que os meus poemas são simples e tratam apenas do lado belo das coisas e/ou dos sentimentos. Mas qualquer um poderia fazê-lo? creio que não. E isso não é bom, na realidade, isso é péssimo! Isso nos mostra o quanto nossa sociedade é incapaz de encontrar e pensar na beleza, no transcedental, na simplicidade do ambiente que a cerca - e torna-lo poesia.
  Podem chamar de "complexo de Pollyana" mas para mim, absolutamente tudo tem um lado bonito! E eu fico realmente triste por terem tantas pessoas nesse mundo que passam pela vida sem fazer dela poesia. Para mim, todo mundo deveria escrever poesias - e sem rimas ou redondilhas maiores ou menores, sem regras mas com paixão: sendo um apaixonado pelas coisas, pelas pessoas e pela poesia que é vida.
  Se para viajar basta existir, porque tantas pessoas vivem com os pés fincados no chão, reclamando de tudo o que acontece e de como a realidade é difícil? elas esquecem de sonhar? Porque no nosso mundo de hoje os sonhadores estão em extinção? porque eu pareço uma estranha por ser uma sonhadora? (é porque eu tropeço?) As pessoas deviam passar menos tempo vendo televisão e mais tempo olhando a lua, menos tempo reclamando e mais tempo se apaixonando uma pelas outras, menos tempo jogando videogame e mais tempo sentindo o sol tocar na pele.
  A poesia é muito mais que palavras; a poesia da vida é viver, amar, se apaixonar todos os dias, sentir dor, rir e chorar. A poesia da vida é até o dinheiro, a poluição, as drogas, o fundo do poço. Tudo na vida é poesia, porque as pessoas não percebem isso?
  Ter fé não é um sentimento fácil. Acreditar cegamente no que não podemos  ver e tornar aquilo um objetivo? Existe coisa mais difícil e bonita? A fé passa a ser um sonho, nós passamos a ter fé nos sonhos e a andar olhando mais para o céu do que para o chão. Quando a gente encontra a poesia da vida começamos a fazer poesias sobre a vida e para isso é preciso aprender a sonhar. Os sonhadores são poetas. Já imaginou se todos no mundo fossem poetas?   Todos seriam sonhadores e o mundo viveria cheio de tropeços! Mas também cheio de paixão.
Por isso eu te digo meu pai: não, infelizmente não é todo mundo que pode fazer poesias, não é todo mundo que pode sonhar. Para um poema ser poesia, ele não precisa de palavras difíceis, formatos acadêmicos ou de temas denunciativos; basta ser e ter um sonho, ter fé, ser paixão.
  Eu ficaria muito feliz se todas as pessoas do mundo conseguissem fazer um poema, afinal na poesia da vida os melhores versos são os de amor e aqueles que os fazem, nunca morrem.

4 comentários:

  1. Carol, minha linda, comovo-me com tuas palavras... realmente, existe o lado dos "não a tudo", não é o caso do seu pai, lógico! mas a simplicidade de um poema, de um soneto, de um cordel é que leva a todos a beleza da vida, mesmo que este seja contestador ou melodioso...
    Publicastes o poema que apresentastes ao teu pai?
    Qual foi ele... beijos e mais beijos "poetinha" linda.

    ResponderExcluir
  2. escrever poesias com redondilhas, rimas e outras regras antigas de poesia, é igual a escrever um artigo com as regras da ABNT. Nenhuma dessas regras fará diferença no conteúdo, mas elas mudam seu estilo de escrever e o modo como as pessoas vão achar que você pensar.

    ResponderExcluir
  3. Putz, me odiei ao me olhar com teus olhos, Bica. Mas o que eu te disse é como eu gosto de ler poesia. Não como eu acho que ela deva ser. Mencionei João Cabral de Mello Neto, que, apesar de ser um incessante e obcecado redator de rimas metradas, escreveu e lindamente sobre temas elevados, apesar de jamais ter falado de amor. O que quero dizer publicamente é que apoio tuas pretensões poéticas com todo o fervor e sinceridade. Te amo.

    ResponderExcluir
  4. Massa, concordo com muitas coisas. E você precisa corromper seu pai, há muito mais que redondilhas, rimas e métricas (e sou um fiel defensor delas). Aconselho dar de presente ao papai um Paulo Leminski.

    Bom por aqui.

    ResponderExcluir