terça-feira, 20 de novembro de 2012

Uma crônica e um desenho

Era uma sexta-feira. Ela ainda estava deitada na cama quando recebeu a ligação. “Ao invés de ir para o Seminário de Olinda, tu vai pro Teatro de Santa Isabel. Pode ser?”, indagava uma voz feminina do outro lado da linha. “OK”, ela respondeu. Já passavam das 15h quando ela recebeu essa chamada. O show começava às 19h. Tenho pouco tempo para pesquisar sobre a vida do meu entrevistado. Pensou.
Ela conseguiu recolher todas as informações necessárias para fazer uma entrevista decente, depois, ligou pruma amiga para convida-la pro show. Foram juntas, aliás, se encontraram lá. O espetáculo foi lindo, digno de todas as palmas que recebeu. A entrevista foi ótima. Rolou até foto com o artista.
Como estavam no centro do Recife, decidiram ir pra o Bar Central. Foi a primeira vez que ela foi lá. Achou o lugar bonito, com pessoas que pareciam interessantes e o rádio só cantarolava boas músicas. Logo quando chegaram não tinha nenhuma mesa vazia. Subiram e desceram as escadas até acharem uma mesa espremida na entrada do bar. Sentaram, pediram uma cerveja. Só tinha Heineken (para de desagrado dela, que acha essa cerveja muito salgada. Mas só tinha ela. Fazer o que?)
Logo atrás da mesa delas, estava sentado um rapaz acompanhado apenas de um pedaço surrado de papel e uma caneta ou lápis, ela não conseguiu identificar. Ele parecia ser alto, gordinho e tinha cabelo e barba preta. Comum.
Enquanto elas conversavam um pouco sobre tudo, ela percebia um movimento estranho do rapaz. Ele ia de um lado para o outro da cadeira, espichando o pescoço para burlar a cabeça da amiga e conseguir olhar para a mesa delas. Que pessoa estranha, pensou. A noite foi passando e o rapaz continuava fazendo os mesmos movimentos. Aquilo já estava incomodando. “Esse menino tá olhando muito pra gente. Já tô agoniada”, disse. “Será que ele tá desenhando a gente?”, falou a amiga em um tom de resposta. Juntas, tomaram uma decisão: olhar para trás para ver se ele se intimidava e parava com a chatice. Não adiantou. Ele continuou.
“Será que ele vai mostrar a gente o desenho? Fiquei curiosa agora”, sorriu a amiga. Mas será que ele está mesmo desenhando a gente? A gente não tem nada de incomum, somos normais. Não tem nada digno de ser desenhado aqui, ela pensou.
O rapaz levantou-se e foi embora. Elas nunca viram o desenho.

2 comentários:

  1. Bora fazer um bolão pra descobrir que desenho era esse. Isso daí não é crônica, é a introdução ou o primeiro capítulo de um romance.

    ResponderExcluir